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Antologia Árvore dos mundos

por Luziane Palma

A  NAÇÃO  DE  LYS

CAPÍTULO 1

 

- Diga-me onde ele está?

O local era abafado e verde.

O musgo tomava conta das paredes como se houvessem jogado um balde de tinta.

Aqui e ali haviam algumas pedras acinzentadas. Duas colunas dividiam o ambiente, somente a luz de dois archotes iluminavam a figura altiva que questionava.

- Tenho a esperança de revê-lo com vida, pois ao contrário, o seu povo irá pagar pelo que fizeram! – falou o Rei Liam, baixando um pouco a cabeça e fechando as mãos.

- Não faço ideia de quem esteja falando, oh grande Rei! – sussurrou com sarcasmo uma voz nas sombras.

O som das correntes o incomodava, mas não se moveu daquele canto escuro, somente seus olhos brilhavam observando com malícia seus captores.

- Adoraria conhecer mais seu castelo, tanto verde! – disse o prisioneiro com tom de voz alegre e um olhar de desprezo.

- Não suporta o poder que habita neste lugar escravo das sombras? Seu povo vive naquele país estéril não é mesmo?  - aproximou-se mais do local em sombras que o soldado tentava manter-se escondido e tocou levemente a chama incandescente.

- Pare! Não quero ver! Não falarei mais nada rei hipócrita!

O brilho espectral dos olhos que vinham da escuridão se apagaram, somente a respiração inquieta e o som crepitante do fogo eram ouvidas.

- Faça como quiser, mas vou tirar tudo que preciso de você! A guerra acabou, e seu rei está morto, seja lá o que ele procurava ... ele enganou a todos vocês. – caminhando em direção as escadas, foi deixando seu prisioneiro para trás.

Aquele era seu castelo e apesar de suas forças elementais estarem com metade do poder que deveriam exercer, ainda sim conseguia captar as vibrações eletromagnéticas de quem tentasse ocultar pensamentos na sua presença.

- Vossa Majestade, conseguiu tirar algo daquele verme da escuridão?  - perguntou Adahn capitão de sua guarda real.

- Siga-me.

O rei não parou para falar com ele, saiu na direção da biblioteca, onde seu feiticeiro já os aguardava.

No entanto na cela, algo sombrio começava a tomar forma.

O prisioneiro começa a sussurrar para a escuridão, seus olhos cinza se iluminaram novamente e ele iniciara um diálogo silencioso.

- Ainda não encontrei, meu senhor! Mas estou dentro do castelo e eles acreditam que sou um prisioneiro comum, logo completarei a missão!

- Entendo, mas onde estão nossas tropas agora? Acho que acreditaram, sim! Redde morket! – fez uma leve reverência com a cabeça e fechou os olhos novamente.

Nesse momento a masmorra ficou em total escuridão, os guardas desceram correndo a escadaria, perceberam que os archotes tinham se apagado e vozes pareciam vir da cela tomada pelas sombras.

- Quem está aí? – falou o primeiro soldado.

- Alguém deve ter vindo resgatá-lo! Como passaram por nós? Traga outra tocha para enxergarmos nesta penumbra soldado! Vá rápido! - disse o chefe da guarda.

- Mas senhor e as vozes? Não ouve as vozes dentro da cela? – aproximou-se a passos curtos tateando os tijolos com dedos trêmulos.


CAPÍTULO 2

 

 - Eles não sabem sobre a árvore? – disse o feiticeiro e guardião da biblioteca assim que o rei atravessou as portas.

- Não! Nem o que ela significa! Mas sabem sobre o medalhão, não entendem ainda seu poder e como usá-lo... aquele soldado está aqui com este objetivo!

- Tem certeza disso meu senhor? Temo que haja algo a mais nessa suposta captura! – relatou o guarda real.

Adahn estava logo atrás do rei, assim que entrou não parava de caminhar em círculos pela magnífica biblioteca, tamborilada com os dedos a longa espada em seu alforje, parava as vezes e olhava o chão com desconfiança.

- Não tema soldado, o medalhão não está no castelo! – disse o feiticeiro na tentativa de acalma-lo.

- Como não está mais em seu poder guardião? Você deveria protegê-lo, quem o levou?

Intimou o rei apontando o indicador no peito do feiticeiro, o eco de sua voz fez as vidraças sacudirem.

Verge tentou ignorar o tom intimidador daquela pergunta, foi em direção a janela oeste da biblioteca, esperou alguns minutos em silêncio, sua voz estava calma e suave ao falar novamente.

- Apesar de ser nosso Rei, meu senhor, e ter toda minha fidelidade e admiração, devo lembrar que sou eu o responsável pelo poder que mantém este reino?

- Perdão! Desculpe-me meu amigo, mas não sei como tirar algo bom de tudo isso, meu amado filho ... Ele não está mais aqui conosco!

- Entendo... mas precisamos proteger o medalhão! Eu fiz o que foi necessário! – completou o guardião.

O rei sabia que naquele momento cautela era necessária, aproximou-se de Verge e comtemplou a muralha que cercava o castelo, o silêncio tomou o ambiente.

O território de Lys era um local próspero e sua floresta cercava o reino por todos os lados, para onde o feiticeiro olhasse veria o verde esmeralda dos abetos e os vidoeiros brancos enfeitando a paisagem com sua cor exótica, mas seu olhar estava direcionado somente em um ponto neste momento.

Na região central da floresta havia uma árvore muito singular, nela seu pensamento estava.

- Vossa majestade já percebeu que de qualquer ângulo do castelo ou das muralhas é possível contemplar a Árvore Dorus? – disse o guardião pausadamente.

- Nunca havia percebido, sei o quanto ela é importante Verge! O segredo continua intacto, eles jamais tomaram o reino!

- Contudo, a guerra quase acabou com nossa floresta, e aos poucos eles a encontrarão, por isso o que fiz foi necessário...

Neste instante o guarda das masmorras adentrou o local sem cerimônia, sua farda desalinhada e suada, seus olhos saltados procuravam pela figura do rei.

- Majestade, o prisioneiro! – falou juntando todo ar que ainda tinha em seus pulmões.

- O que ouve soldado? – aproximou-se Adahn tentando amparar o rapaz que desmaiou em seus braços.

 

CAPÍTULO 3

 

Pouco antes das chamas se apagarem o prisioneiro ajoelhou-se no chão colocando as mãos viradas para baixo e sombras saíram como um rio lamacento por entre seus dedos.

- La det bli morke! – recitou o soldado sombrio, e a escuridão se fez.

Várias vozes sombrias estavam com ele, pois precisava distrair os guardas até conseguir o encantamento certo para transfigurar um fio de seu longo e negro cabelo em um fino e mortal florete, que mais parecia uma agulha de cristal quando colocado na palma de suas mãos.

Foi rápido em sua magia, recolocando a arma dentro de sua manga esquerda e sussurrando para que as trevas retornassem a ele.

- O que deseja falso rei? Quer conversar novamente? – falou lentamente.

- Não compreendo majestade, não víamos nada quando descemos até a cela do elfo! Tudo estava tomado de trevas e vozes sombrias! – esbravejou o guarda sem fôlego que agora gesticulava com olhar agitado para as luzes que ardiam nos archotes.

- Sim, algo estranho aconteceu! Ele fez algo... meu senhor! – tentou terminar a frase o chefe da guarda.

- Claramente ele está no mesmo lugar que o colocamos soldados, se acalmem, o povo das sombras gosta de brincar com nossa imaginação! – aproximou-se o rei descendo as escadas, levou a mão até o archote e a luz passou de amarela pálida para um cristal incandescente.

- O que procura em nosso castelo prisioneiro? Onde seu desprezível exército se escondeu depois da derrota? – falava das escadas o guardião com voz tremula.

O feiticeiro da Nação de Lys e guardião dos poderes do medalhão pressentia algo no ambiente, a natureza naquele lugar subterrâneo era frágil, o musgo das paredes captavam sombras de alguma magia praticada pelo elfo negro, um ser que ele conhecia muito bem, pois habitavam além dos limites da floresta.

O Reino de Lys era cercado pela poderosa floresta Smarag, também conhecida como o Vale Esmeralda, além dela há um grande despenhadeiro arenoso.

- Outro hipócrita, seu povo não merece todo esse poder! – pela primeira vez o elfo saia da escuridão e se aproximava das grades, seu olhar calmo fitavam o guardião.

- Responda à pergunta que lhe fizeram prisioneiro! – aproximou-se igualmente o rei, segurando com força no metal escuro das barras. Sua voz estava descontrolada.

- Vou lhe dar respostas vossa majestade! A Casa de Lys está infectada de traidores... crescem como este musgo! – sussurrou para o rei ao dar mais um passo em sua direção.

- Covarde! FALE o que venho buscar eu meu reino? – Disse cuspindo a frase em sua frente.

Nesse momento o rei estava mais perto das grades do que deveria, seu braço alcançava a capa que cobria a figura sombria em sua frente, sem esperar pelo golpe, da manga esquerda do elfo uma agulha atravessou o ar com tamanha força e rapidez que alguns segundos se passaram até todos começarem a percebem que sangue pingava em uma poça próxima ao rei.

- Sua morte! – respondeu o prisioneiro calmamente, sua figura altiva e olhar simpático confundiriam quem o visse assim, parecia estar entregando um presente.

 

CAPÍTULO 4

 

Minutos antes do Rei Liam e Adahn adentrarem a biblioteca para informar o guardião sobre o prisioneiro, ele estava observando distraidamente um pequeno arranhão em sua mão.

Tentava recordar cada detalhe daquele dia fatídico no limiar do deserto, quando voltará a rever a fronteira entre os reinos acompanhado pelo príncipe.

- Onde está me levando desta vez Verge? – brincou o príncipe ao sair pelo portão principal montado em seu puro sangue Schyran preto.

- Logo verá, como sempre ansioso e juvenil! Hoje será nossa última lição sobre o reino que irá governar um dia! Tenha paciência, meu senhor! – disse sorrindo e olhando em direção a grande floresta.

- Vamos para a floresta novamente?

- Não, hoje iremos atravessa-la! – o tom de sua voz se modificou, segurou as rédeas com mais força e baixou a cabeça.

- Mas é proibido Verge, não devemos chegar até os limites do deserto!

- Quero que veja algo, lá não é um deserto. – disse sem vontade, colocando seu cavalo a galope.

Quando entraram pela estrada arborizada que cortava a floresta Smarag uma força invisível parecia atingir seus corpos, a natureza naquele lugar emanava poder e à medida que se aprofundavam entre as árvores seus corpos começaram a emitir uma tonalidade esmeralda.

- Já lhe contaram como esta floresta surgiu, meu príncipe? – falou o feiticeiro após muito tempo em silêncio, seu olhar se tornou mais suave.

- Quando eu era criança talvez, como uma história para dormir! Mas isso tem alguma importância para onde estamos indo?

- Você entende que nossa magia depende da natureza, mas desconhece que ela venha deste lugar, algo que existe somente aqui.- levantou sua mão esquerda para atrair uma folha de abeto somente com correntes de ar até ele.

- Algo? O que?

- Você logo saberá... estamos quase chegando ao limite da floresta! - seu olhar ficou ameaçador, tentou falar sem soar agressivo.

Logo a frente, tiveram que deixar os cavalos e seguiram caminhando, o terreno começou a ficar pedregoso e árido, o príncipe ia com cautela olhando para os lados, tentando não escorregar entre pedras soltas, percebeu que o chão virou uma ladeira e estavam subindo.

A respiração de ambos começou a ficar alta e aos poucos iam exaurindo suas forças o clima era extremamente diferente da floresta.

- O que fazemos neste lugar desolado feiticeiro? – falou finalmente o príncipe cansado e sem forças para ser educado. Nunca tinha estado tão longe de seu Reino.

- Acalme-se, senhor, meu príncipe! Preciso que veja e saiba a verdade!

- Verdade? Qual verdade Verge? Meu pai não vai gostar nada de saber que estivemos aqui, isso sim!

- Pois precisei sair do castelo e traze-lo até este lugar, longe de seu pai, para lhe contar uma verdade que ele não tem coragem de lhe falar... – ele olhou para o deserto e apontou para o grande vale lá embaixo.

- Está vendo esta região? Tudo isso um dia já fez parte da nossa floresta, seu poder era imensurável, éramos capazes de criar elementais! Mas seu pai deixou aqueles seres desprezíveis chegarem e se apossarem dessas terras ...

- Quem são ‘eles’? O deserto não é habitado, todos sabem!

- Todos dizem o que seu pai quer que saibam, e sim o deserto na verdade é o lar dos elfos negros! Eles vieram das sombras e foram crescendo! 

- Como meu pai tolerou tal coisa?

- O Rei não quis interferir, preferiu deixá-los em paz enquanto não se aproximassem do reino.

- Porque? – seu olhar era repleto de lágrimas, mas sua voz acusava revolta.

- Um dia talvez lhe conte tudo! Mas eles estão lá e precinto que logo irão nos atacar, por isso precisei traze-lo aqui.... Você deve enfrenta-los primeiro.

- Eu não sou o rei, Verge... e não acredito que eles farão algum mal contra nós, para nosso povo são lendas somente.

- Mas um dia eles virão!

- Como pode saber disso?

- Devemos estar preparados quando este dia chegar, precisamos de um exército com mais poder!

- Mas já possuímos um exército! - respondeu o príncipe já confuso com aquele diálogo que parecia não estar participando.

Ele começou a duvidar das reais intenções de estar ali, mas confiava no feiticeiro, estava cansado e com calor queria descer daquele penhasco e acabar logo com aquele assunto, virou-se para ir embora.

- Ainda não terminei. – o guardião agarrou o seu braço, segurando a armadura e chegando a rasgar sua pele com tamanha força, que o desequilibrou.

Os dois se encararam por alguns segundos e uma leve brisa começou a contornar seus corpos, a terra se pôs em movimento e seus longos cabelos prateados balançaram.

- Precisamos acordar os elementais! Somente com eles estaremos seguros, meu príncipe!– falou com urgência.

- Você ficou louco? Isso causaria muitas mortes! Não sabemos como eles surgem, não podemos controla-los, precisaria de muito poder para isso, a floresta não suportaria!

- Eu preciso traze-los! – Olhou com desejo para frente em direção as sombras que cresciam além do penhasco.

- Não concordo com isso, nem meu pai concordaria, atacar antes mesmo de saber se estes elfos são ou não perigosos! Porque?

- Você não sabe o que está dizendo, é uma criança ainda, nunca passou por uma guerra, não faz ideia de quem eles são!

- Você também não sabe! Nosso povo não conhece a guerra, como você saberia? Ou está escondendo algo? Vamos embora daqui... -  tentou mover-se e sair do caminho, mas seu corpo estava paralisado.

- Me perdoe por isso, mas é para um bem maior! – Disse ele ao respirar fundo e invocar a corrente de ar que girava em sua volta.

 Canalizando rajadas de vento que subiam do penhasco o feiticeiro do reino de Lys girou levemente a mão esquerda em um movimento espiral na direção do príncipe lançando-o no abismo.

Desesperado tentando se agarrar em algo antes da queda com uma das mãos tentou segurar o braço do feiticeiro e cravou suas unhas nele, com a outra mão conseguiu somente arrancar o medalhão do pescoço de Verge para então cair na escuridão do despenhadeiro.

 

CAPÍTULO 5

 

Na masmorra o silêncio fora quebrado somente quando a risada suave e irônica do Rei Liam surgiu no ar, ele retirava calmamente o fino objeto cravado em seu coração. E seus olhos penetraram diretamente na expressão enfurecida do soldado a sua frente.

- Este era o plano de seu povo, soldado das sombras? Ah, contemple o que sobrou dele! – levantou o florete em direção as chamas na parede e deixou uma gota do seu sangue cair nelas.

O líquido escuro e viscoso se mesclou as labaredas emitindo uma leve claridade esverdeada no ambiente, no chão onde o rei pisava sobrara somente uma poça de musgo recém formada.

- Entenda prisioneiro que em meu reino a energia que emana da natureza sempre nos protegerá! Ela é nossa força e os elementais combatem as sombras de onde eu não deveria ter deixado vocês saírem! – explicou com autoridade e olhos focados na figura escondida na escuridão.

- Mas acredito que não era minha morte que seu rei desejava? – questionou para si, olhando o fino florete em sua mão.

- Eu já consegui tudo o que procurava, elfo da luz! – respondeu o prisioneiro ao olhar pelas grades sorrindo.

- E o que seria? – perguntou Liam com tom de voz sombrio.

- Informação! Algo que está além desses muros, escondido em sua floresta!

Ao terminar a frase o soldado fechou os olhos, nesse momento o rei lançou o florete que estava em sua mão acertando o peito do elfo das sombras fazendo-o cair de joelhos na pedra escura da masmorra.

Mas no minuto em que o som da queda expandia-se pelo cômodo ondas trazidas pelo ar tocaram a pele do rei acusando energias que ele não havia percebido.

- Não!!! – constatou o rei ao invocar seu poder.

Assim que o prisioneiro começou a perder as forças oscilações magnéticas saíram através dele denunciando suas memórias mais profundas, algo que estava tentando preservar até aquele momento.

Liam se ajoelhou próximo as grades e segurou a cabeça do elfo já a beira da morte, o ambiente começou a emitir uma claridade em tons esmeralda.

- Onde ele está agora? Meu filho, ele está em suas memórias!

- O medalhão...está... – sem forças para terminar a frase, e tendo cumprido sua missão o soldado parou de respirar nos braços do rei.

Um silêncio espectral invadiu o lugar. A guarda real estava a sua volta sem entender bem o que havia acontecido, pois somente o rei visualizava por completo as memórias do prisioneiro caído em seus braços.

Paralisado no chão, foi tocado levemente por seu guarda de confiança, Adahn, que estava logo atrás com a mão ainda na bainha de sua espada desconfiado vendo o corpo sem vida a sua frente.

- Ele está morto vossa majestade?

- Sim Adahn, está! E eu cometi um grave erro ao fazer isso!

- Ele ameaçou nosso reino, meu senhor?

- Não Adahn, ele sabia onde meu filho estava, eu vi em suas memórias, e vi o medalhão também! –falou ao se erguer do chão com lágrimas cobrindo o rosto.

Ao largar o corpo frio do soldado de Morke parou por alguns segundos observando as chamas na lateral da masmorra e voltou-se para os guardas já com voz firme e olhar intenso indo na direção das escadas.

Percebeu que seu feiticeiro não estava mais ali, olhou além das escadas já caminhando com passos largos em direção a saída confuso e tentando manter o foco nas memórias do elfo negro.

- Preciso falar com Verge! Para onde ele foi? 

Encontrem-no!

 

CAPÍTULO 6

 

A queda foi barulhenta e rápida, o local que ele estava agora parecia um planalto deserto com tons avermelhados e terra vulcânica escurecida.

- O que aconteceu? Onde eu estou?

No horizonte o príncipe conseguiu avistar somente uma cordilheira em formato de mesa, atrás dele ficava o despenhadeiro rochoso que separava aquele local inóspito de sua terra natal.

“Como consegui sobreviver a isso?” – olhou para cima, na direção de onde o guardião lhe lançara para morte, percebeu que somente havia sofrido algumas poucas escoriações.

Ao levar a mão na cabeça para limpar o sangue que escorria da lateral viu que carregava o medalhão consigo. O objeto ainda estava emitindo uma luz suave e dourada que oscilava como um pequeno sol.

“O que esse medalhão fez comigo? Como todo esse poder estava nas mãos daquele traidor?”- pensou ele ao se lembrar dos planos do guardião contra aquele lugar que agora estava.

“Preciso sair daqui, estou fraco ainda! Tenho que avisar meu pai sobre o que aconteceu!”

Decidiu tentar contornar o paredão até encontrar algum desfiladeiro que fosse fácil a escalada ou talvez que conseguisse subir por alguma trilha entre as rochas.

Caminhou durante muito tempo até perceber que a noite estava chegando e iria complicar sua procura, era inútil continuar, sentou-se em uma pedra usando o pouco de energia que ainda conseguia tirar da luz parca que o sol emitia.

- Não posso fazer nada nesta escuridão que se aproxima! Mas preciso estar atento, sinto que há algo me observando nas sombras! – falou para si observando com preocupação o horizonte.

Era madrugada quando constatou que havia caído em um sono profundo.

Algo se movia em torno dele há uma certa distância. Sussurros e passos se aproximavam e paravam a cada momento.

- Quem está aí? – alcançou o medalhão para tentar usar seu poder, mas parou.

“Não posso deixar que ele caia nas mãos erradas”. – apesar de não saber ao certo como o medalhão funcionava decidiu esconde-lo dentro da bainha de sua espada.

As estrelas refletiam no metal da lâmina que estava em suas mãos e naquela hora o príncipe pode ver de relance os seres que se escondiam nas sombras. Ele não conhecera nada semelhante até aquele momento.

Pareciam-se muito com ele, mesmo porte alto e esbelto, mas tinham um tom de pele mais alvo do que o seu, os longos cabelos negros eram diferentes da cor dourada típica dos elfos da luz, ele sabia que estava cercado pelo povo das sombras.

- Vocês são elfos? O que querem? – ele não se moveu, não queria demonstrar que estava ferido.

- Acalme-se ser da luz! Não queremos nada, mas percebo que você precisa de nossa ajuda! Está com ferimentos e perdido nesta parte desolada de nosso reino! – respondeu uma voz suave e melodiosa, tinha um sotaque diferente mesmo falando seu idioma.

- Quem é você?

- Sou comandante e chefe da primeira vila da fronteira, que fica a poucas horas deste lugar! Meus vigias perceberam movimento no desfiladeiro e viram o que aconteceu a você!

- Venha, guarde sua espada, aqui não tem inimigos! –falou oferecendo o seu braço para o príncipe conseguir levantar-se.

Ao erguer-se percebeu que estava cercado por muitos elfos escondidos entre as sombras, naquela hora da madrugada apenas seus olhos cintilavam ao luar, todos vestiam roupas com capuz. Era difícil para o príncipe tentar fazer algo contra seres que ele pouco distinguia naquela escuridão.

Embainhou a espada, fez uma leve reverência com a cabeça e esperou que o escoltassem.

O comandante da vila caminhava ao seu lado, tinha aparência simples e soturna, mas conforme a luz da lua tocava seu rosto o olhar era iluminado com tons de prata e gris.

- O que o filho do Rei de Lys faz em nosso reino se me permite perguntar? – questionou em um sussurro velado.

Eles permaneciam bem à frente do grupo que neste momento estava mais interessado em vigiar os paredões em sua retaguarda e os sons que vinham dele. Caminhavam em uma fila dupla distantes uns dos outros.

- Então você sabe quem eu sou?

- Príncipe Manelys, devemos muito a seu pai, ele acolheu nosso povo em um momento de tristeza e perdas!

- Não entendo, porque meu pai nunca me falou sobre vocês!

-Isso não posso lhe responder, deve ouvir de seu pai! Mas posso lhe contar como viemos parar aqui e porque ele permitiu que ficássemos.

A caminhada era cansativa e difícil para o príncipe pois não enxergava quase nada a sua frente, era uma noite iluminada pela lua cheia dourada.

- Seu pai aceitou que ficássemos no deserto devido ao acordo que fez com nosso rei! Nós seríamos o escudo que protegeria seu povo daqueles que ousassem atravessar o oceano.

Não havia árvores nem abetos pelo caminho somente pedras soltas e uma grama rasteira para guiar seus passos.

- Contra o que vocês estão nos protegendo? – gesticulou ele para o deserto inóspito a sua frente.

- A guerra! – pronunciou com olhar de respeito e tristeza.

- Nunca passamos por uma guerra!

- Viemos pelo grande mar além deste deserto, fora dos limites do seu reino! Talvez jamais tenha ouvido falar, mas precisamos fugir de nossa terra natal, Dokkalfar.

- Então vocês são refugiados de guerra?

 - Digamos que no início sim... éramos uma nação tentando sobreviver aos horrores da perda e abandono daqueles que ficaram para defender nossa fuga!

- Porque fala no início? O que houve depois que chegaram aqui?

- Muitas tristezas nos seguiram, traidores também! Mas isso somente nosso rei poderá lhe contar, assim que pudermos estar em sua presença.

- Vocês têm um rei então!?

- Porquê pergunta isso com ar de surpresa e desconfiança príncipe?

- Você já ouviu falar do feiticeiro de nosso reino? Verge.

- Ele também é assunto que diz respeito somente ao nosso soberano! Não tenho autoridade para falar sobre isso neste lugar.

- Sabe então que foi ele que me jogou do penhasco?

- Sim! – respondeu virando-se para Manelys e parando a caminhada, com um aceno todos que vinham atrás também pararam.

- Como conhecem ele tão bem? – questionou ele confuso por estarem parados no meio do vazio.

- Verge de Morket era um elfo negro, remanescente dos primeiros refugiados que chegaram nestas terras e um traidor de nosso reino.

 

CAPITULO 7

 

- Chegamos!

- Onde? Não vejo nada! – disse o príncipe agitando as mãos tentando focar em algo.

- Como você disse somos elfos das sombras! Sabemos como ocultar onde moramos, observe!

Assim que o comandante deu as costas para o príncipe seu olhar passou a observar o vazio.

 As sombras aos seus pés começaram a desaparecer e uma suave e pálida luz branca rompia a escuridão logo a frente, uma depressão começava a se formar a partir de onde ele estava até a entrada de uma caverna coberta pela escuridão há alguns passos à frente.

Aquilo era magnífico pensou o príncipe, oposto aos poderes que seu povo estava acostumado.

Contudo não conseguia acreditar ainda que um espião estava infiltrado em seu castelo por todos esses anos sem o conhecimento do rei.

- Somos exímios escavadores, nosso povo sempre viveu no subterrâneo! Vimos que este deserto seria o lugar perfeito para nossas habitações assim que chegamos...

- Este lugar é incrível! A luz aqui é diferente, é fascinante como reflete o brilho prateado da lua. – observou o príncipe ao entrar pelo portal iluminado acima de sua cabeça.

-Venha! Precisa descansar e recompor suas forças, amanhã partiremos para a capital, onde será levado na presença do nosso rei! – indicou o caminho usando um filete de luz prateada como guia.

- Verge costumava dizer que haviam somente selvagens nestas terras.

O local descia levemente até culminar em um grande salão iluminado por raios da lua que incidiam de uma fenda no teto, diferentes escadas em sentidos contrários surgiam nas laterais da caverna.

O comandante estava caminhando em direção a uma dessas escadas com passos leves e rápidos demonstrando que o príncipe precisava segui-lo.

Ao tirar o capuz o líder elfo revelava uma expressão séria e altiva, olhos felinos e cinzas, sua pele cintilava em tons prata combinando com a armadura que estava oculta momentos atrás.

- Não costumamos andar sob a luz do sol, mas sabemos que o povo da nação Lys não possui a mesma visão para as sombras, então amanhã o levaremos logo nos primeiros raios de luz para a nossa cidade capital, onde falará com o rei! Eu virei busca-lo, descanse príncipe!

Contudo ele não conseguiu fechar os olhos mesmo com toda aquela escuridão, seu corpo estava anestesiado pela energia que o medalhão havia liberado durante a queda. Tudo que o comandante tinha lhe contado girava em seus pensamentos, a guerra, a traição e aquele lugar escondido nas sombras.

- Vejo que não dormiu! – disse o comandante ao surgir no pequeno cômodo horas mais tarde.

Apesar de estar em uma caverna o local onde estava agora tinha uma iluminação suave e cristalina, como se ainda a lua estivesse penetrando pelas frestas entre as rochas. Mas lá fora os primeiros raios de sol denunciavam o início de mais um dia e para os elfos das sombras sua luz não era bem-vinda.

- Precisamos ir antes que o sol se torne um problema para nós! Aqui nas cavernas estamos protegidos pelas sombras, mas lá fora tudo muda!

- Obrigada por estar me ajudando comandante! Para nós o sol faz parte de nossa natureza!

- Nossas origens são semelhantes, meu senhor, descendemos das mesmas forças elementais. Contudo, há muito tempo nos afastamos e procuramos as luzes que surgem do crepúsculo! – disse ele ao caminhar na direção das escadas usando a claridade que sua armadura emitia para guiar o hóspede real.

- Espere, mais devagar que meus olhos não funcionam bem aqui, quer dizer que temos alguma ligação ancestral? – foi tateando as paredes tentando seguir o leve brilho à sua frente.

- Isso é outro assunto que deixarei nas mãos do nosso rei. Não temos tempo, venha!

Saíram novamente no grande salão com a claraboia que na noite anterior estava inundada pela luz do luar e hoje estava coberta por uma espessa camada de nevoa acinzentada, não deixando a luz dourada do sol entrar.

Um grupo de seis elfos estava a sua espera, todos vestidos com capas e capuzes marrons. Alguns pareciam soldados, pois portavam armaduras escuras que se assemelhavam a escamas de peixe e traziam na cintura suas espadas embainhadas em couro preto.

- Para que precisamos de uma escolta armada comandante? Há perigo nestas terras?

- Nem todos os habitantes concordam com o nosso rei. – respondeu ele com um meio sorriso.

- Com o que não concordam?

- Com o acordo! Alguns prefeririam somente tomar seu reino! Lembra que falei que somos o escudo contra invasores?

- Sim! – concordou o príncipe com um gesto, e deixou que o assunto terminasse ali.

“Preciso saber mais sobre este lugar e esse povo, há algo que eles não querem revelar, mas sob a luz do sol poderei descobrir mais.”

Caminhou em direção a entrada da caverna captando os primeiros raios de sol que chegavam até ele, sua força parecia uma esponja sugando e crescendo assim que saia para o deserto.

Apesar da distância entre a floresta os poderes que ligavam seu povo eram fortes, o príncipe conseguia invocar o medalhão escondido na bainha de sua espada e este o respondia, as vibrações do ar atingiam sua pele como ondas de som.

Estava próximo do comandante assim que saíram da entrada. Os guardas se posicionaram três a frente e os outros na retaguarda, a distância entre eles era pouca e ali conseguiria ler suas últimas memórias.

“Então o traidor encontrou a outra metade do medalhão, o rei precisa saber que o descobrimos!” –a voz do comandante surgiu como um riacho barulhento aos seus ouvidos.

 “Então eles sabem sobre o medalhão, o que mais eles escondem?” – pensou com preocupação tentando não olhar na direção que havia escondido o objeto.

 

CAPITULO 8

 

O príncipe Manelys caminhava em silêncio, percebeu que estavam se aproximando cada vez mais daquelas montanhas em forma de mesa que havia avistado no dia da queda. Todos andavam com passos rápidos e pesados, queriam sair daquele lugar ensolarado o mais rápido possível.

Ele, contudo, precisava saber mais sobre seus captores, tentava encontrar em cada memória algo que explicasse mais sobre as origens daquele medalhão.

Somente o comandante tinha aquele conhecimento, os demais emitiam vibrações de cansaço e preocupação com a falta de sombras ao seu redor. Fragmentos sobre a partida deles de sua terra natal pareciam confusos, pois alguns diziam respeito ao medalhão, mas a imagem de uma bela mulher invadia a todo momento essas lembranças.

O trajeto era pequeno, em poucas horas já estavam aproximando-se das sombras da encosta da montanha achatada, era um paredão recoberto de rocha cinza e grama verde. Sua entrada era no lado oposto de onde estavam, uma pequena trilha contornava o lugar.

- Vamos príncipe, estamos chegando! Aqui vou pedir que seja vendado, este trajeto somente é contemplado por nosso povo, peço perdão desde já! Mas eu o ajudarei com o final da trilha!

Como se tratava de um deserto o caminho era plano e com poucos obstáculos, porém a entrada estava localizada em uma fenda entre dois imensos paredões que causavam naqueles que não conheciam sua passagem uma espécie de ilusão, deixando invasores perdidos por horas entre as encostas sombrias.

Assim que adentraram a entrada da caverna o comandante retirou a venda e dispensou os guardas que o escoltavam. Este era um lugar mais amplo, como um enorme saguão de um palácio com vários andares e torres de vigia com abertura para o deserto.

Havia colunas centrais que formavam escadas em espirais que levavam aos andares de moradia dos nobres e do rei, o olhar do príncipe perdeu-se naquela imensidão cercada pelas trevas.

- Este lugar é surpreendente comandante, há tantos andares, quantos elfos moram aqui? – questionou ele tentando captar mais memórias que o ajudasse a conhecer aquele povo.

- Somos muitos, mas ainda sim poucos desde que chegamos aqui! –respondeu olhando para um dos pilares em ruínas no canto oposto.

Príncipe Manelys não questionou aquela frase obscura, aprofundou-se nas memórias que surgiam após aquele comentário. E uma feroz batalha travada ali naquele lugar surgiu em sua mente, aquele pilar em ruínas havia sido o fim para muitos elfos negros, e nas sombras uma figura se destacava o rosto do feiticeiro entre os rebeldes, tomado de ódio e medo.

-Acompanhe-me, nosso rei o aguarda príncipe Manelys!

Foi direcionado a uma pequena sala na lateral do mesmo salão com as colunas, ali estava uma figura solitária entre as sombras, seu porte revelava sua nobreza e ao seu lado somente um pequeno trono formado por rochas e peles de animais. O príncipe mal conseguia distinguir as paredes do lugar, mas assim que entrou uma chama azul acendeu-se em cada canto do cômodo revelando inscrições e imagens de diferentes histórias daquele povo.

- É uma honra conhece-lo príncipe Manelys, filho da casa de Lys! – anunciou o rei ao virar-se para o convidado.

- Também estou impressionado em conhecer seu povo e seu reino majestade! Apesar de não fazer ideia de sua existência até ser jogado de um penhasco dias atrás.

- Verge! Aquele traidor e ladrão! Ele pagará pelo que fez ao meu povo. – falou ao sentar-se novamente em seu frio trono.

- Quem era ele para sua nação? Porque o chama de ladrão? – o príncipe caminhava lentamente e seu olhar se perdia nos entalhes das paredes atrás do trono.

- Ele fazia parte da nossa guarda pessoal, estava responsável por proteger e aconselhar minha família. – ao terminar de falar seus olhos voltaram-se para a lateral onde uma figura feminina de longos cabelos cacheados e vestido esvoaçante dançava abaixo da figura de uma lua prateada.

- Quem era ela? – questionou o príncipe ao perceber que o rei tinha um olhar triste.

- Minha irmã! Pupila e protegida de Verge, ao qual deveria manter segura e falhou!

- O que aconteceu?

- Ele a matou!

- Porque? E onde o medalhão entra nesta história?

- Antes de responder estas questões príncipe, preciso lhe alertar sobre algo que já está em sua mente e questionou meu comandante antes de chegar até aqui.

-Vocês têm alguma ligação com meus antepassados? Porque meu pai fez o acordo?

- Tudo que precisa saber príncipe Manelys, que esta questão se resume a uma pessoa, nossa vinda para este lugar, o envolvimento de seu pai, dizem respeito a ela! – voltou a olhar para a figura na parede.

- Quem era sua irmã?

- Rainha Natt de Lys, sua mãe! Levada de nossa nação assim que a guerra teve início em Dokkalfar, quando seu pai a viu aportando em suas terras apaixonou-se por ela e permitiu que nosso povo permanecesse aqui como refugiados.

- Verge a matou você disse? Como? Nunca soubemos ao certo como aconteceu na época eu era um garoto.

- Ele era obcecado por ela! Foi até o castelo e se infiltrou com o pretexto de protege-la e ficar ao seu lado, o rei permitiu tornando-o seu feiticeiro.

-E onde o medalhão se encaixa nessa história rei Soren?

- Foi pelo medalhão que este traidor matou minha amada irmã, ela descobriu todo seu plano, o desejo de possuir as duas metades, uma que estava em nosso poder e possuía o formato de uma meia lua e a outra que estava em seu castelo, perdido, mas que com o passar dos anos ele a encontrou, na forma de um radiante sol, as duas metades unidas formaram o medalhão que possui o poder de abrir um portal e trazer os elementais ao nosso mundo.

- Ele a matou! –reforçou carregado de rancor e tristeza pela perda.

- Sim! Assim ninguém mais revelaria seu segredo...

- Como soube de tudo isso?

- Nosso espião e prisioneiro que está no castelo! Se sacrificou por estas informações, mas ele era um mestiço, possuía o dom da telepatia como seu povo.

- Mestiço? Quer dizer que ele também tinha o sangue dos elfos da luz? Como?

 

CAPÍTULO 9

 

- Como isso é possível? – questionou o príncipe.

Mas naquele momento o comandante adentrou o cômodo e anunciou que precisaria interromper a audiência entre eles para relatar notícias da fronteira. Onde seus vigias, há pouco voltaram com informações perturbadoras.

- Peço perdão príncipe Manelys. Mas este assunto ficará para outro momento mais oportuno! Gostaria que permanecesse aqui, acho que também deva entender os acontecimentos que estão para se iniciar. – anunciou o rei com voz calma e profunda.

As notícias que vinham das terras de Lys diziam respeito ao Rei Liam e a descoberta que fez. Os informantes de Morke, que gostavam de perambular durante a noite pelas vielas da pequena cidade entorno do castelo. Relataram que dois cavaleiros foram vistos saindo do castelo em busca do príncipe perdido e todos estavam agitados com mais um desaparecimento, de seu feiticeiro.

- Verge então desapareceu! Meu pai pode ter descoberto sua traição? – questionou o príncipe sem esperar.

- Talvez sim, talvez não! Ele não anunciou o motivo do desaparecimento, mas nossos infiltrados falam que tudo se deu após a morte de nosso espião. – esclareceu o comandante.

- Agora entendo! Seu pai acredita que você tenha sido levado porque estava com o medalhão.

- Levado! Por quem? Como sabe disso majestade. – sussurrou educadamente o comandante.

- Por nós! Agora percebo toda a mensagem que nosso informante queria revelar em meus pensamentos. Ele mostrou a figura do rei assustado ao ouvir o nome do filho e logo depois o medalhão e nossos desertos surgiram em minha mente.

- Ele tentou alerta-lo!

-Sim! Porém rei Liam não sabe a verdade, ele irá tentar nos atacar! – respondeu tentando não demostrar seus planos.

-E o que pretende fazer rei Soren? – perguntou o príncipe percebendo o olhar urgente e estratégico do rei.

Ele precisava chegar até seu povo novamente e esclarecer ao seu pai os verdadeiros culpados e perigos que estava para enfrentar. Mas talvez o rei dos elfos das sombras não concordasse com ele.

- Posso lhe perguntar algo majestade? – falou o príncipe com seu ar juvenil tentando colocar simpatia na voz.

- Fale príncipe!

- O que mais seu informante descobriu depois de sua captura em nosso castelo?

- Entendo! Teme que eu ataque seu povo? Mas também peço que entenda minha situação, pois neste momento a nação Lys acredita que nosso povo tentou invadir suas terras e roubar seu medalhão, levando assim seu príncipe como refém! O que fariam neste momento?

- Mas quem atacou o castelo? Não foi realmente o povo das sombras?

- Príncipe, lembra que lhe contei sobre os invasores que tentam se infiltrar e usurpar o reino, os mesmos que iniciaram a guerra em nosso antigo lar? – lembrou o comandante tentando esclarecer.

- Meu pai não sabe disso! E tão pouco que foi Verge que tentou me matar!

- O medalhão deve estar com Verge, ele deve ter fugido para a floresta! Precisamos encontra-lo e traze-lo para nossos domínios assim pagará pelos seus crimes. – disse o rei levantando-se da pedra em formato de trono e ajeitando sua espada na bainha.

- Eu preciso ir até meu pai rei Soren! Ele precisa saber que estou vivo e entender o que aconteceu.

- Ele irá nos culpar novamente, se souber que Verge é um traidor, seu pai não faz ideia que o próprio guardião matou a rainha Natt! Mas ele irá lançar sua ira encima de nosso povo.

- Eu não permitirei! – respondeu com voz cansada como tentando vencer uma corrida já perdida.

- Verge é um elfo das sombras príncipe, ele acreditará que fez tudo ao meu comando. Você não terá voz neste embate. Perdoe-me pelo que precisarei fazer, não posso deixar que sai deste castelo, até encontrarmos o traidor e recuperarmos o medalhão!

- Não faça isso, não permita que eu seja um prisioneiro. Afinal temos o mesmo sangue, é irmão de minha mãe!

- E digo mais uma vez, lamento! Mas nosso povo não suportaria uma nova guerra, se a nação Lys acreditar que temos algo com a morte de sua rainha, iremos perecer. Se Verge fugiu do castelo é porque tinha alguma desconfiança, mas não revelou sua traição!

A conversa acabara ali, o príncipe não tinha mais argumentos e o comandante já estava se retirando para preparar a guarda real. O rei pediu que o levassem para seus aposentos e o deixassem lá até segunda ordem.

Mas o que o rei Soren e seus guardas não faziam ideia era que ali bem próximo deles estava o poder do medalhão que tanto buscavam.

Sentado em sua nova sela em meio as sombras da prisão o príncipe Manelys retirou do seu esconderijo o objeto e invocou mais uma vez sua força. Desta vez conseguiu se conectar com ele, as duas metades brilharam em sincronia e começaram a emitir encantamentos como uma tela de cristal, era uma espécie de livro fluído que surgia a sua frente.

As inscrições se pareciam com aquelas gravadas nas paredes da sala do trono de pedra, mas ele conseguia compreender o que elas queriam dizer, iam passando a sua frente, até uma chamar sua atenção e ficar estática aos seus olhos.

- Isso parece um encantamento como aqueles que Verge pronunciava quando eu era criança! Interessante, talvez isso possa ser muito útil!

 

(continua...)

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