A NAÇÃO DE LYS
CAPÍTULO
1
- Diga-me onde ele está?
O local era abafado e verde.
O musgo tomava conta das paredes como
se houvessem jogado um balde de tinta.
Aqui e ali haviam algumas pedras
acinzentadas. Duas colunas dividiam o ambiente, somente a luz de dois archotes
iluminavam a figura altiva que questionava.
- Tenho a esperança de revê-lo com
vida, pois ao contrário, o seu povo irá pagar pelo que fizeram! – falou o Rei
Liam, baixando um pouco a cabeça e fechando as mãos.
- Não faço ideia de quem esteja
falando, oh grande Rei! – sussurrou com sarcasmo uma voz nas sombras.
O som das correntes o incomodava, mas
não se moveu daquele canto escuro, somente seus olhos brilhavam observando com
malícia seus captores.
- Adoraria conhecer mais seu castelo,
tanto verde! – disse o prisioneiro com tom de voz alegre e um olhar de desprezo.
- Não suporta o poder que habita neste
lugar escravo das sombras? Seu povo vive naquele país estéril não é
mesmo? - aproximou-se mais do local em sombras que o soldado tentava
manter-se escondido e tocou levemente a chama incandescente.
- Pare! Não quero ver! Não falarei mais
nada rei hipócrita!
O brilho espectral dos olhos que vinham
da escuridão se apagaram, somente a respiração inquieta e o som crepitante do
fogo eram ouvidas.
- Faça como quiser, mas vou tirar tudo
que preciso de você! A guerra acabou, e seu rei está morto, seja lá o que ele
procurava ... ele enganou a todos vocês. – caminhando em direção as escadas,
foi deixando seu prisioneiro para trás.
Aquele era seu castelo e apesar de suas
forças elementais estarem com metade do poder que deveriam exercer, ainda sim
conseguia captar as vibrações eletromagnéticas de quem tentasse ocultar
pensamentos na sua presença.
- Vossa Majestade, conseguiu tirar algo
daquele verme da escuridão? - perguntou Adahn capitão de sua guarda
real.
- Siga-me.
O rei não parou para falar com ele,
saiu na direção da biblioteca, onde seu feiticeiro já os aguardava.
No entanto na cela, algo sombrio
começava a tomar forma.
O prisioneiro começa a sussurrar para a
escuridão, seus olhos cinza se iluminaram novamente e ele iniciara um diálogo
silencioso.
- Ainda não encontrei, meu senhor! Mas
estou dentro do castelo e eles acreditam que sou um prisioneiro comum, logo
completarei a missão!
- Entendo, mas onde estão nossas tropas
agora? Acho que acreditaram, sim! Redde morket! – fez uma leve reverência com a
cabeça e fechou os olhos novamente.
Nesse momento a masmorra ficou em total
escuridão, os guardas desceram correndo a escadaria, perceberam que os archotes
tinham se apagado e vozes pareciam vir da cela tomada pelas sombras.
- Quem está aí? – falou o primeiro
soldado.
- Alguém deve ter vindo resgatá-lo!
Como passaram por nós? Traga outra tocha para enxergarmos nesta penumbra
soldado! Vá rápido! - disse o chefe da guarda.
- Mas senhor e as vozes? Não ouve as
vozes dentro da cela? – aproximou-se a passos curtos tateando os tijolos com
dedos trêmulos.
CAPÍTULO
2
- Eles não sabem sobre a árvore?
– disse o feiticeiro e guardião da biblioteca assim que o rei atravessou as
portas.
- Não! Nem o que ela significa! Mas
sabem sobre o medalhão, não entendem ainda seu poder e como usá-lo... aquele
soldado está aqui com este objetivo!
- Tem certeza disso meu senhor? Temo
que haja algo a mais nessa suposta captura! – relatou o guarda real.
Adahn estava logo atrás do rei, assim
que entrou não parava de caminhar em círculos pela magnífica biblioteca,
tamborilada com os dedos a longa espada em seu alforje, parava as vezes e
olhava o chão com desconfiança.
- Não tema soldado, o medalhão não está
no castelo! – disse o feiticeiro na tentativa de acalma-lo.
- Como não está mais em seu poder
guardião? Você deveria protegê-lo, quem o levou?
Intimou o rei apontando o indicador no
peito do feiticeiro, o eco de sua voz fez as vidraças sacudirem.
Verge tentou ignorar o tom intimidador
daquela pergunta, foi em direção a janela oeste da biblioteca, esperou alguns
minutos em silêncio, sua voz estava calma e suave ao falar novamente.
- Apesar de ser nosso Rei, meu senhor,
e ter toda minha fidelidade e admiração, devo lembrar que sou eu o responsável
pelo poder que mantém este reino?
- Perdão! Desculpe-me meu amigo, mas
não sei como tirar algo bom de tudo isso, meu amado filho ... Ele não está mais
aqui conosco!
- Entendo... mas precisamos proteger o
medalhão! Eu fiz o que foi necessário! – completou o guardião.
O rei sabia que naquele momento cautela
era necessária, aproximou-se de Verge e comtemplou a muralha que cercava o
castelo, o silêncio tomou o ambiente.
O território de Lys era um local
próspero e sua floresta cercava o reino por todos os lados, para onde o
feiticeiro olhasse veria o verde esmeralda dos abetos e os vidoeiros brancos
enfeitando a paisagem com sua cor exótica, mas seu olhar estava direcionado
somente em um ponto neste momento.
Na região central da floresta havia uma
árvore muito singular, nela seu pensamento estava.
- Vossa majestade já percebeu que de
qualquer ângulo do castelo ou das muralhas é possível contemplar a Árvore
Dorus? – disse o guardião pausadamente.
- Nunca havia percebido, sei o quanto
ela é importante Verge! O segredo continua intacto, eles jamais tomaram o
reino!
- Contudo, a guerra quase acabou com
nossa floresta, e aos poucos eles a encontrarão, por isso o que fiz foi
necessário...
Neste instante o guarda das masmorras
adentrou o local sem cerimônia, sua farda desalinhada e suada, seus olhos
saltados procuravam pela figura do rei.
- Majestade, o prisioneiro! – falou
juntando todo ar que ainda tinha em seus pulmões.
- O que ouve soldado? – aproximou-se
Adahn tentando amparar o rapaz que desmaiou em seus braços.
CAPÍTULO
3
Pouco antes das chamas se apagarem o
prisioneiro ajoelhou-se no chão colocando as mãos viradas para baixo e sombras
saíram como um rio lamacento por entre seus dedos.
- La det bli morke! – recitou o soldado
sombrio, e a escuridão se fez.
Várias vozes sombrias estavam com ele,
pois precisava distrair os guardas até conseguir o encantamento certo para
transfigurar um fio de seu longo e negro cabelo em um fino e mortal florete,
que mais parecia uma agulha de cristal quando colocado na palma de suas mãos.
Foi rápido em sua magia, recolocando a
arma dentro de sua manga esquerda e sussurrando para que as trevas retornassem
a ele.
- O que deseja falso rei? Quer
conversar novamente? – falou lentamente.
- Não compreendo majestade, não víamos
nada quando descemos até a cela do elfo! Tudo estava tomado de trevas e vozes
sombrias! – esbravejou o guarda sem fôlego que agora gesticulava com olhar
agitado para as luzes que ardiam nos archotes.
- Sim, algo estranho aconteceu! Ele fez
algo... meu senhor! – tentou terminar a frase o chefe da guarda.
- Claramente ele está no mesmo lugar
que o colocamos soldados, se acalmem, o povo das sombras gosta de brincar com
nossa imaginação! – aproximou-se o rei descendo as escadas, levou a mão até o
archote e a luz passou de amarela pálida para um cristal incandescente.
- O que procura em nosso castelo
prisioneiro? Onde seu desprezível exército se escondeu depois da derrota? –
falava das escadas o guardião com voz tremula.
O feiticeiro da Nação de Lys e guardião
dos poderes do medalhão pressentia algo no ambiente, a natureza naquele lugar
subterrâneo era frágil, o musgo das paredes captavam sombras de alguma magia
praticada pelo elfo negro, um ser que ele conhecia muito bem, pois habitavam
além dos limites da floresta.
O Reino de Lys era cercado pela
poderosa floresta Smarag, também conhecida como o Vale Esmeralda, além dela há
um grande despenhadeiro arenoso.
- Outro hipócrita, seu povo não merece
todo esse poder! – pela primeira vez o elfo saia da escuridão e se aproximava
das grades, seu olhar calmo fitavam o guardião.
- Responda à pergunta que lhe fizeram
prisioneiro! – aproximou-se igualmente o rei, segurando com força no metal
escuro das barras. Sua voz estava descontrolada.
- Vou lhe dar respostas vossa
majestade! A Casa de Lys está infectada de traidores... crescem como este
musgo! – sussurrou para o rei ao dar mais um passo em sua direção.
- Covarde! FALE o que venho buscar eu
meu reino? – Disse cuspindo a frase em sua frente.
Nesse momento o rei estava mais perto
das grades do que deveria, seu braço alcançava a capa que cobria a figura
sombria em sua frente, sem esperar pelo golpe, da manga esquerda do elfo uma
agulha atravessou o ar com tamanha força e rapidez que alguns segundos se
passaram até todos começarem a percebem que sangue pingava em uma poça próxima
ao rei.
- Sua morte! – respondeu o prisioneiro
calmamente, sua figura altiva e olhar simpático confundiriam quem o visse
assim, parecia estar entregando um presente.
CAPÍTULO
4
Minutos antes do Rei Liam e Adahn
adentrarem a biblioteca para informar o guardião sobre o prisioneiro, ele
estava observando distraidamente um pequeno arranhão em sua mão.
Tentava recordar cada detalhe daquele
dia fatídico no limiar do deserto, quando voltará a rever a fronteira entre os
reinos acompanhado pelo príncipe.
- Onde está me levando desta vez Verge?
– brincou o príncipe ao sair pelo portão principal montado em seu puro sangue
Schyran preto.
- Logo verá, como sempre ansioso e
juvenil! Hoje será nossa última lição sobre o reino que irá governar um dia!
Tenha paciência, meu senhor! – disse sorrindo e olhando em direção a grande
floresta.
- Vamos para a floresta novamente?
- Não, hoje iremos atravessa-la! – o
tom de sua voz se modificou, segurou as rédeas com mais força e baixou a
cabeça.
- Mas é proibido Verge, não devemos
chegar até os limites do deserto!
- Quero que veja algo, lá não é um
deserto. – disse sem vontade, colocando seu cavalo a galope.
Quando entraram pela estrada arborizada
que cortava a floresta Smarag uma força invisível parecia atingir seus corpos,
a natureza naquele lugar emanava poder e à medida que se aprofundavam entre as
árvores seus corpos começaram a emitir uma tonalidade esmeralda.
- Já lhe contaram como esta floresta
surgiu, meu príncipe? – falou o feiticeiro após muito tempo em silêncio, seu
olhar se tornou mais suave.
- Quando eu era criança talvez, como
uma história para dormir! Mas isso tem alguma importância para onde estamos
indo?
- Você entende que nossa magia depende
da natureza, mas desconhece que ela venha deste lugar, algo que existe somente
aqui.- levantou sua mão esquerda para atrair uma folha de abeto somente com
correntes de ar até ele.
- Algo? O que?
- Você logo saberá... estamos quase
chegando ao limite da floresta! - seu olhar ficou ameaçador, tentou falar sem
soar agressivo.
Logo a frente, tiveram que deixar os
cavalos e seguiram caminhando, o terreno começou a ficar pedregoso e árido, o
príncipe ia com cautela olhando para os lados, tentando não escorregar entre
pedras soltas, percebeu que o chão virou uma ladeira e estavam subindo.
A respiração de ambos começou a ficar
alta e aos poucos iam exaurindo suas forças o clima era extremamente diferente
da floresta.
- O que fazemos neste lugar desolado
feiticeiro? – falou finalmente o príncipe cansado e sem forças para ser
educado. Nunca tinha estado tão longe de seu Reino.
- Acalme-se, senhor, meu príncipe!
Preciso que veja e saiba a verdade!
- Verdade? Qual verdade Verge? Meu pai
não vai gostar nada de saber que estivemos aqui, isso sim!
- Pois precisei sair do castelo e
traze-lo até este lugar, longe de seu pai, para lhe contar uma verdade que ele
não tem coragem de lhe falar... – ele olhou para o deserto e apontou para o
grande vale lá embaixo.
- Está vendo esta região? Tudo isso um
dia já fez parte da nossa floresta, seu poder era imensurável, éramos capazes
de criar elementais! Mas seu pai deixou aqueles seres desprezíveis chegarem e
se apossarem dessas terras ...
- Quem são ‘eles’? O deserto não é
habitado, todos sabem!
- Todos dizem o que seu pai quer que
saibam, e sim o deserto na verdade é o lar dos elfos negros! Eles vieram das
sombras e foram crescendo!
- Como meu pai tolerou tal coisa?
- O Rei não quis interferir, preferiu
deixá-los em paz enquanto não se aproximassem do reino.
- Porque? – seu olhar era repleto de
lágrimas, mas sua voz acusava revolta.
- Um dia talvez lhe conte tudo! Mas
eles estão lá e precinto que logo irão nos atacar, por isso precisei traze-lo
aqui.... Você deve enfrenta-los primeiro.
- Eu não sou o rei, Verge... e não
acredito que eles farão algum mal contra nós, para nosso povo são lendas
somente.
- Mas um dia eles virão!
- Como pode saber disso?
- Devemos estar preparados quando este
dia chegar, precisamos de um exército com mais poder!
- Mas já possuímos um exército! -
respondeu o príncipe já confuso com aquele diálogo que parecia não estar
participando.
Ele começou a duvidar das reais
intenções de estar ali, mas confiava no feiticeiro, estava cansado e com calor
queria descer daquele penhasco e acabar logo com aquele assunto, virou-se para
ir embora.
- Ainda não terminei. – o guardião
agarrou o seu braço, segurando a armadura e chegando a rasgar sua pele com tamanha
força, que o desequilibrou.
Os dois se encararam por alguns
segundos e uma leve brisa começou a contornar seus corpos, a terra se pôs em
movimento e seus longos cabelos prateados balançaram.
- Precisamos acordar os elementais!
Somente com eles estaremos seguros, meu príncipe!– falou com urgência.
- Você ficou louco? Isso causaria
muitas mortes! Não sabemos como eles surgem, não podemos controla-los,
precisaria de muito poder para isso, a floresta não suportaria!
- Eu preciso traze-los! – Olhou com
desejo para frente em direção as sombras que cresciam além do penhasco.
- Não concordo com isso, nem meu pai
concordaria, atacar antes mesmo de saber se estes elfos são ou não perigosos!
Porque?
- Você não sabe o que está dizendo, é
uma criança ainda, nunca passou por uma guerra, não faz ideia de quem eles são!
- Você também não sabe! Nosso povo não
conhece a guerra, como você saberia? Ou está escondendo algo? Vamos embora
daqui... - tentou mover-se e sair do caminho, mas seu corpo estava
paralisado.
- Me perdoe por isso, mas é para um bem
maior! – Disse ele ao respirar fundo e invocar a corrente de ar que girava em
sua volta.
Canalizando rajadas de vento que
subiam do penhasco o feiticeiro do reino de Lys girou levemente a mão esquerda
em um movimento espiral na direção do príncipe lançando-o no abismo.
Desesperado tentando se agarrar em algo
antes da queda com uma das mãos tentou segurar o braço do feiticeiro e cravou
suas unhas nele, com a outra mão conseguiu somente arrancar o medalhão do
pescoço de Verge para então cair na escuridão do despenhadeiro.
CAPÍTULO
5
Na masmorra o silêncio fora quebrado
somente quando a risada suave e irônica do Rei Liam surgiu no ar, ele retirava
calmamente o fino objeto cravado em seu coração. E seus olhos penetraram
diretamente na expressão enfurecida do soldado a sua frente.
- Este era o plano de seu povo, soldado
das sombras? Ah, contemple o que sobrou dele! – levantou o florete em direção
as chamas na parede e deixou uma gota do seu sangue cair nelas.
O líquido escuro e viscoso se mesclou
as labaredas emitindo uma leve claridade esverdeada no ambiente, no chão onde o
rei pisava sobrara somente uma poça de musgo recém formada.
- Entenda prisioneiro que em meu reino
a energia que emana da natureza sempre nos protegerá! Ela é nossa força e os
elementais combatem as sombras de onde eu não deveria ter deixado vocês saírem!
– explicou com autoridade e olhos focados na figura escondida na escuridão.
- Mas acredito que não era minha morte
que seu rei desejava? – questionou para si, olhando o fino florete em sua mão.
- Eu já consegui tudo o que procurava,
elfo da luz! – respondeu o prisioneiro ao olhar pelas grades sorrindo.
- E o que seria? – perguntou Liam com
tom de voz sombrio.
- Informação! Algo que está além desses
muros, escondido em sua floresta!
Ao terminar a frase o soldado fechou os
olhos, nesse momento o rei lançou o florete que estava em sua mão acertando o
peito do elfo das sombras fazendo-o cair de joelhos na pedra escura da
masmorra.
Mas no minuto em que o som da queda
expandia-se pelo cômodo ondas trazidas pelo ar tocaram a pele do rei acusando
energias que ele não havia percebido.
- Não!!! – constatou o rei ao invocar
seu poder.
Assim que o prisioneiro começou a
perder as forças oscilações magnéticas saíram através dele denunciando suas
memórias mais profundas, algo que estava tentando preservar até aquele momento.
Liam se ajoelhou próximo as grades e
segurou a cabeça do elfo já a beira da morte, o ambiente começou a emitir uma
claridade em tons esmeralda.
- Onde ele está agora? Meu filho, ele
está em suas memórias!
- O medalhão...está... – sem forças
para terminar a frase, e tendo cumprido sua missão o soldado parou de respirar
nos braços do rei.
Um silêncio espectral invadiu o lugar.
A guarda real estava a sua volta sem entender bem o que havia acontecido, pois
somente o rei visualizava por completo as memórias do prisioneiro caído em
seus braços.
Paralisado no chão, foi tocado
levemente por seu guarda de confiança, Adahn, que estava logo atrás com a mão
ainda na bainha de sua espada desconfiado vendo o corpo sem vida a sua frente.
- Ele está morto vossa majestade?
- Sim Adahn, está! E eu cometi um grave
erro ao fazer isso!
- Ele ameaçou nosso reino, meu senhor?
- Não Adahn, ele sabia onde meu filho
estava, eu vi em suas memórias, e vi o medalhão também! –falou ao se erguer do
chão com lágrimas cobrindo o rosto.
Ao largar o corpo frio do soldado de
Morke parou por alguns segundos observando as chamas na lateral da masmorra e
voltou-se para os guardas já com voz firme e olhar intenso indo na direção das
escadas.
Percebeu que seu feiticeiro não estava
mais ali, olhou além das escadas já caminhando com passos largos em direção a saída
confuso e tentando manter o foco nas memórias do elfo negro.
- Preciso falar com Verge! Para onde
ele foi?
Encontrem-no!
CAPÍTULO
6
A queda foi barulhenta e rápida, o
local que ele estava agora parecia um planalto deserto com tons avermelhados e
terra vulcânica escurecida.
- O que aconteceu? Onde eu estou?
No horizonte o príncipe conseguiu
avistar somente uma cordilheira em formato de mesa, atrás dele ficava o
despenhadeiro rochoso que separava aquele local inóspito de sua terra natal.
“Como consegui sobreviver a isso?” –
olhou para cima, na direção de onde o guardião lhe lançara para morte, percebeu
que somente havia sofrido algumas poucas escoriações.
Ao levar a mão na cabeça para limpar o
sangue que escorria da lateral viu que carregava o medalhão consigo. O objeto
ainda estava emitindo uma luz suave e dourada que oscilava como um pequeno sol.
“O que esse medalhão fez comigo? Como
todo esse poder estava nas mãos daquele traidor?”- pensou ele ao se lembrar dos
planos do guardião contra aquele lugar que agora estava.
“Preciso sair daqui, estou fraco ainda!
Tenho que avisar meu pai sobre o que aconteceu!”
Decidiu tentar contornar o paredão até
encontrar algum desfiladeiro que fosse fácil a escalada ou talvez que
conseguisse subir por alguma trilha entre as rochas.
Caminhou durante muito tempo até
perceber que a noite estava chegando e iria complicar sua procura, era inútil
continuar, sentou-se em uma pedra usando o pouco de energia que ainda conseguia
tirar da luz parca que o sol emitia.
- Não posso fazer nada nesta escuridão
que se aproxima! Mas preciso estar atento, sinto que há algo me observando nas
sombras! – falou para si observando com preocupação o horizonte.
Era madrugada quando constatou que
havia caído em um sono profundo.
Algo se movia em torno dele há uma
certa distância. Sussurros e passos se aproximavam e paravam a cada momento.
- Quem está aí? – alcançou o medalhão
para tentar usar seu poder, mas parou.
“Não posso deixar que ele caia nas mãos
erradas”. – apesar de não saber ao certo como o medalhão funcionava decidiu
esconde-lo dentro da bainha de sua espada.
As estrelas refletiam no metal da
lâmina que estava em suas mãos e naquela hora o príncipe pode ver de relance os
seres que se escondiam nas sombras. Ele não conhecera nada semelhante até
aquele momento.
Pareciam-se muito com ele, mesmo porte
alto e esbelto, mas tinham um tom de pele mais alvo do que o seu, os longos
cabelos negros eram diferentes da cor dourada típica dos elfos da luz, ele
sabia que estava cercado pelo povo das sombras.
- Vocês são elfos? O que querem? – ele
não se moveu, não queria demonstrar que estava ferido.
- Acalme-se ser da luz! Não queremos
nada, mas percebo que você precisa de nossa ajuda! Está com ferimentos e
perdido nesta parte desolada de nosso reino! – respondeu uma voz suave e
melodiosa, tinha um sotaque diferente mesmo falando seu idioma.
- Quem é você?
- Sou comandante e chefe da primeira
vila da fronteira, que fica a poucas horas deste lugar! Meus vigias perceberam
movimento no desfiladeiro e viram o que aconteceu a você!
- Venha, guarde sua espada, aqui não
tem inimigos! –falou oferecendo o seu braço para o príncipe conseguir
levantar-se.
Ao erguer-se percebeu que estava
cercado por muitos elfos escondidos entre as sombras, naquela hora da madrugada
apenas seus olhos cintilavam ao luar, todos vestiam roupas com capuz. Era
difícil para o príncipe tentar fazer algo contra seres que ele pouco distinguia
naquela escuridão.
Embainhou a espada, fez uma leve
reverência com a cabeça e esperou que o escoltassem.
O comandante da vila caminhava ao seu
lado, tinha aparência simples e soturna, mas conforme a luz da lua tocava seu
rosto o olhar era iluminado com tons de prata e gris.
- O que o filho do Rei de Lys faz em
nosso reino se me permite perguntar? – questionou em um sussurro velado.
Eles permaneciam bem à frente do grupo
que neste momento estava mais interessado em vigiar os paredões em sua
retaguarda e os sons que vinham dele. Caminhavam em uma fila dupla distantes
uns dos outros.
- Então você sabe quem eu sou?
- Príncipe Manelys, devemos muito a seu
pai, ele acolheu nosso povo em um momento de tristeza e perdas!
- Não entendo, porque meu pai nunca me
falou sobre vocês!
-Isso não posso lhe responder, deve
ouvir de seu pai! Mas posso lhe contar como viemos parar aqui e porque ele
permitiu que ficássemos.
A caminhada era cansativa e difícil
para o príncipe pois não enxergava quase nada a sua frente, era uma noite
iluminada pela lua cheia dourada.
- Seu pai aceitou que ficássemos no
deserto devido ao acordo que fez com nosso rei! Nós seríamos o escudo que
protegeria seu povo daqueles que ousassem atravessar o oceano.
Não havia árvores nem abetos pelo
caminho somente pedras soltas e uma grama rasteira para guiar seus passos.
- Contra o que vocês estão nos
protegendo? – gesticulou ele para o deserto inóspito a sua frente.
- A guerra! – pronunciou com olhar de
respeito e tristeza.
- Nunca passamos por uma guerra!
- Viemos pelo grande mar além deste
deserto, fora dos limites do seu reino! Talvez jamais tenha ouvido falar, mas
precisamos fugir de nossa terra natal, Dokkalfar.
- Então vocês são refugiados de guerra?
- Digamos que no início sim...
éramos uma nação tentando sobreviver aos horrores da perda e abandono daqueles
que ficaram para defender nossa fuga!
- Porque fala no início? O que houve
depois que chegaram aqui?
- Muitas tristezas nos seguiram,
traidores também! Mas isso somente nosso rei poderá lhe contar, assim que
pudermos estar em sua presença.
- Vocês têm um rei então!?
- Porquê pergunta isso com ar de
surpresa e desconfiança príncipe?
- Você já ouviu falar do feiticeiro de
nosso reino? Verge.
- Ele também é assunto que diz respeito
somente ao nosso soberano! Não tenho autoridade para falar sobre isso neste
lugar.
- Sabe então que foi ele que me jogou
do penhasco?
- Sim! – respondeu virando-se para
Manelys e parando a caminhada, com um aceno todos que vinham atrás também
pararam.
- Como conhecem ele tão bem? –
questionou ele confuso por estarem parados no meio do vazio.
- Verge de Morket era um elfo negro,
remanescente dos primeiros refugiados que chegaram nestas terras e um traidor
de nosso reino.
CAPITULO
7
- Chegamos!
- Onde? Não vejo nada! – disse o
príncipe agitando as mãos tentando focar em algo.
- Como você disse somos elfos das
sombras! Sabemos como ocultar onde moramos, observe!
Assim que o comandante deu as costas
para o príncipe seu olhar passou a observar o vazio.
As sombras aos seus pés começaram
a desaparecer e uma suave e pálida luz branca rompia a escuridão logo a frente,
uma depressão começava a se formar a partir de onde ele estava até a entrada de
uma caverna coberta pela escuridão há alguns passos à frente.
Aquilo era magnífico pensou o príncipe,
oposto aos poderes que seu povo estava acostumado.
Contudo não conseguia acreditar ainda
que um espião estava infiltrado em seu castelo por todos esses anos sem o
conhecimento do rei.
- Somos exímios escavadores, nosso povo
sempre viveu no subterrâneo! Vimos que este deserto seria o lugar perfeito para
nossas habitações assim que chegamos...
- Este lugar é incrível! A luz aqui é
diferente, é fascinante como reflete o brilho prateado da lua. – observou o
príncipe ao entrar pelo portal iluminado acima de sua cabeça.
-Venha! Precisa descansar e recompor
suas forças, amanhã partiremos para a capital, onde será levado na presença do
nosso rei! – indicou o caminho usando um filete de luz prateada como guia.
- Verge costumava dizer que haviam
somente selvagens nestas terras.
O local descia levemente até culminar
em um grande salão iluminado por raios da lua que incidiam de uma fenda no
teto, diferentes escadas em sentidos contrários surgiam nas laterais da
caverna.
O comandante estava caminhando em
direção a uma dessas escadas com passos leves e rápidos demonstrando que o
príncipe precisava segui-lo.
Ao tirar o capuz o líder elfo revelava
uma expressão séria e altiva, olhos felinos e cinzas, sua pele cintilava em
tons prata combinando com a armadura que estava oculta momentos atrás.
- Não costumamos andar sob a luz do
sol, mas sabemos que o povo da nação Lys não possui a mesma visão para as
sombras, então amanhã o levaremos logo nos primeiros raios de luz para a nossa
cidade capital, onde falará com o rei! Eu virei busca-lo, descanse príncipe!
Contudo ele não conseguiu fechar os
olhos mesmo com toda aquela escuridão, seu corpo estava anestesiado pela
energia que o medalhão havia liberado durante a queda. Tudo que o comandante
tinha lhe contado girava em seus pensamentos, a guerra, a traição e aquele
lugar escondido nas sombras.
- Vejo que não dormiu! – disse o comandante
ao surgir no pequeno cômodo horas mais tarde.
Apesar de estar em uma caverna o local
onde estava agora tinha uma iluminação suave e cristalina, como se ainda a lua
estivesse penetrando pelas frestas entre as rochas. Mas lá fora os primeiros
raios de sol denunciavam o início de mais um dia e para os elfos das sombras
sua luz não era bem-vinda.
- Precisamos ir antes que o sol se
torne um problema para nós! Aqui nas cavernas estamos protegidos pelas sombras,
mas lá fora tudo muda!
- Obrigada por estar me ajudando
comandante! Para nós o sol faz parte de nossa natureza!
- Nossas origens são semelhantes, meu
senhor, descendemos das mesmas forças elementais. Contudo, há muito tempo nos
afastamos e procuramos as luzes que surgem do crepúsculo! – disse ele ao
caminhar na direção das escadas usando a claridade que sua armadura emitia para
guiar o hóspede real.
- Espere, mais devagar que meus olhos
não funcionam bem aqui, quer dizer que temos alguma ligação ancestral? – foi
tateando as paredes tentando seguir o leve brilho à sua frente.
- Isso é outro assunto que deixarei nas
mãos do nosso rei. Não temos tempo, venha!
Saíram novamente no grande salão com a
claraboia que na noite anterior estava inundada pela luz do luar e hoje estava
coberta por uma espessa camada de nevoa acinzentada, não deixando a luz dourada
do sol entrar.
Um grupo de seis elfos estava a sua
espera, todos vestidos com capas e capuzes marrons. Alguns pareciam soldados,
pois portavam armaduras escuras que se assemelhavam a escamas de peixe e
traziam na cintura suas espadas embainhadas em couro preto.
- Para que precisamos de uma escolta
armada comandante? Há perigo nestas terras?
- Nem todos os habitantes concordam com
o nosso rei. – respondeu ele com um meio sorriso.
- Com o que não concordam?
- Com o acordo! Alguns prefeririam
somente tomar seu reino! Lembra que falei que somos o escudo contra invasores?
- Sim! – concordou o príncipe com um
gesto, e deixou que o assunto terminasse ali.
“Preciso saber mais sobre este lugar e
esse povo, há algo que eles não querem revelar, mas sob a luz do sol poderei
descobrir mais.”
Caminhou em direção a entrada da caverna
captando os primeiros raios de sol que chegavam até ele, sua força parecia uma
esponja sugando e crescendo assim que saia para o deserto.
Apesar da distância entre a floresta os
poderes que ligavam seu povo eram fortes, o príncipe conseguia invocar o medalhão
escondido na bainha de sua espada e este o respondia, as vibrações do ar
atingiam sua pele como ondas de som.
Estava próximo do comandante assim que
saíram da entrada. Os guardas se posicionaram três a frente e os outros na
retaguarda, a distância entre eles era pouca e ali conseguiria ler suas últimas
memórias.
“Então o traidor encontrou a outra
metade do medalhão, o rei precisa saber que o descobrimos!” –a voz do
comandante surgiu como um riacho barulhento aos seus ouvidos.
“Então eles sabem sobre o
medalhão, o que mais eles escondem?” – pensou com preocupação tentando não
olhar na direção que havia escondido o objeto.
CAPITULO
8
O príncipe Manelys caminhava em
silêncio, percebeu que estavam se aproximando cada vez mais daquelas montanhas
em forma de mesa que havia avistado no dia da queda. Todos andavam com passos
rápidos e pesados, queriam sair daquele lugar ensolarado o mais rápido
possível.
Ele, contudo, precisava saber mais
sobre seus captores, tentava encontrar em cada memória algo que explicasse mais
sobre as origens daquele medalhão.
Somente o comandante tinha aquele
conhecimento, os demais emitiam vibrações de cansaço e preocupação com a falta
de sombras ao seu redor. Fragmentos sobre a partida deles de sua terra natal
pareciam confusos, pois alguns diziam respeito ao medalhão, mas a imagem de uma
bela mulher invadia a todo momento essas lembranças.
O trajeto era pequeno, em poucas horas
já estavam aproximando-se das sombras da encosta da montanha achatada, era um
paredão recoberto de rocha cinza e grama verde. Sua entrada era no lado oposto
de onde estavam, uma pequena trilha contornava o lugar.
- Vamos príncipe, estamos chegando!
Aqui vou pedir que seja vendado, este trajeto somente é contemplado por nosso
povo, peço perdão desde já! Mas eu o ajudarei com o final da trilha!
Como se tratava de um deserto o caminho
era plano e com poucos obstáculos, porém a entrada estava localizada em uma
fenda entre dois imensos paredões que causavam naqueles que não conheciam sua
passagem uma espécie de ilusão, deixando invasores perdidos por horas entre as
encostas sombrias.
Assim que adentraram a entrada da
caverna o comandante retirou a venda e dispensou os guardas que o escoltavam.
Este era um lugar mais amplo, como um enorme saguão de um palácio com vários
andares e torres de vigia com abertura para o deserto.
Havia colunas centrais que formavam
escadas em espirais que levavam aos andares de moradia dos nobres e do rei, o
olhar do príncipe perdeu-se naquela imensidão cercada pelas trevas.
- Este lugar é surpreendente
comandante, há tantos andares, quantos elfos moram aqui? – questionou ele
tentando captar mais memórias que o ajudasse a conhecer aquele povo.
- Somos muitos, mas ainda sim poucos
desde que chegamos aqui! –respondeu olhando para um dos pilares em ruínas no
canto oposto.
Príncipe Manelys não questionou aquela
frase obscura, aprofundou-se nas memórias que surgiam após aquele comentário. E
uma feroz batalha travada ali naquele lugar surgiu em sua mente, aquele pilar
em ruínas havia sido o fim para muitos elfos negros, e nas sombras uma figura
se destacava o rosto do feiticeiro entre os rebeldes, tomado de ódio e medo.
-Acompanhe-me, nosso rei o aguarda
príncipe Manelys!
Foi direcionado a uma pequena sala na
lateral do mesmo salão com as colunas, ali estava uma figura solitária entre as
sombras, seu porte revelava sua nobreza e ao seu lado somente um pequeno trono
formado por rochas e peles de animais. O príncipe mal conseguia distinguir as
paredes do lugar, mas assim que entrou uma chama azul acendeu-se em cada canto
do cômodo revelando inscrições e imagens de diferentes histórias daquele povo.
- É uma honra conhece-lo príncipe
Manelys, filho da casa de Lys! – anunciou o rei ao virar-se para o convidado.
- Também estou impressionado em
conhecer seu povo e seu reino majestade! Apesar de não fazer ideia de sua
existência até ser jogado de um penhasco dias atrás.
- Verge! Aquele traidor e ladrão! Ele
pagará pelo que fez ao meu povo. – falou ao sentar-se novamente em seu frio
trono.
- Quem era ele para sua nação? Porque o
chama de ladrão? – o príncipe caminhava lentamente e seu olhar se perdia nos
entalhes das paredes atrás do trono.
- Ele fazia parte da nossa guarda
pessoal, estava responsável por proteger e aconselhar minha família. – ao terminar
de falar seus olhos voltaram-se para a lateral onde uma figura feminina de
longos cabelos cacheados e vestido esvoaçante dançava abaixo da figura de uma
lua prateada.
- Quem era ela? – questionou o príncipe
ao perceber que o rei tinha um olhar triste.
- Minha irmã! Pupila e protegida de
Verge, ao qual deveria manter segura e falhou!
- O que aconteceu?
- Ele a matou!
- Porque? E onde o medalhão entra nesta
história?
- Antes de responder estas questões
príncipe, preciso lhe alertar sobre algo que já está em sua mente e questionou
meu comandante antes de chegar até aqui.
-Vocês têm alguma ligação com meus
antepassados? Porque meu pai fez o acordo?
- Tudo que precisa saber príncipe
Manelys, que esta questão se resume a uma pessoa, nossa vinda para este lugar,
o envolvimento de seu pai, dizem respeito a ela! – voltou a olhar para a figura
na parede.
- Quem era sua irmã?
- Rainha Natt de Lys, sua mãe! Levada
de nossa nação assim que a guerra teve início em Dokkalfar, quando seu pai a
viu aportando em suas terras apaixonou-se por ela e permitiu que nosso povo
permanecesse aqui como refugiados.
- Verge a matou você disse? Como? Nunca
soubemos ao certo como aconteceu na época eu era um garoto.
- Ele era obcecado por ela! Foi até o
castelo e se infiltrou com o pretexto de protege-la e ficar ao seu lado, o rei
permitiu tornando-o seu feiticeiro.
-E onde o medalhão se encaixa nessa
história rei Soren?
- Foi pelo medalhão que este traidor
matou minha amada irmã, ela descobriu todo seu plano, o desejo de possuir as
duas metades, uma que estava em nosso poder e possuía o formato de uma meia lua
e a outra que estava em seu castelo, perdido, mas que com o passar dos anos ele
a encontrou, na forma de um radiante sol, as duas metades unidas formaram o
medalhão que possui o poder de abrir um portal e trazer os elementais ao nosso
mundo.
- Ele a matou! –reforçou carregado de
rancor e tristeza pela perda.
- Sim! Assim ninguém mais revelaria seu
segredo...
- Como soube de tudo isso?
- Nosso espião e prisioneiro que está
no castelo! Se sacrificou por estas informações, mas ele era um mestiço,
possuía o dom da telepatia como seu povo.
- Mestiço? Quer dizer que ele também
tinha o sangue dos elfos da luz? Como?
CAPÍTULO
9
- Como isso é possível? – questionou o
príncipe.
Mas naquele momento o comandante
adentrou o cômodo e anunciou que precisaria interromper a audiência entre eles
para relatar notícias da fronteira. Onde seus vigias, há pouco voltaram com
informações perturbadoras.
- Peço perdão príncipe Manelys. Mas
este assunto ficará para outro momento mais oportuno! Gostaria que permanecesse
aqui, acho que também deva entender os acontecimentos que estão para se
iniciar. – anunciou o rei com voz calma e profunda.
As notícias que vinham das terras de
Lys diziam respeito ao Rei Liam e a descoberta que fez. Os informantes de
Morke, que gostavam de perambular durante a noite pelas vielas da pequena
cidade entorno do castelo. Relataram que dois cavaleiros foram vistos saindo do
castelo em busca do príncipe perdido e todos estavam agitados com mais um
desaparecimento, de seu feiticeiro.
- Verge então desapareceu! Meu pai pode
ter descoberto sua traição? – questionou o príncipe sem esperar.
- Talvez sim, talvez não! Ele não
anunciou o motivo do desaparecimento, mas nossos infiltrados falam que tudo se
deu após a morte de nosso espião. – esclareceu o comandante.
- Agora entendo! Seu pai acredita que
você tenha sido levado porque estava com o medalhão.
- Levado! Por quem? Como sabe disso
majestade. – sussurrou educadamente o comandante.
- Por nós! Agora percebo toda a
mensagem que nosso informante queria revelar em meus pensamentos. Ele mostrou a
figura do rei assustado ao ouvir o nome do filho e logo depois o medalhão e
nossos desertos surgiram em minha mente.
- Ele tentou alerta-lo!
-Sim! Porém rei Liam não sabe a
verdade, ele irá tentar nos atacar! – respondeu tentando não demostrar seus
planos.
-E o que pretende fazer rei Soren? –
perguntou o príncipe percebendo o olhar urgente e estratégico do rei.
Ele precisava chegar até seu povo
novamente e esclarecer ao seu pai os verdadeiros culpados e perigos que estava
para enfrentar. Mas talvez o rei dos elfos das sombras não concordasse com ele.
- Posso lhe perguntar algo majestade? –
falou o príncipe com seu ar juvenil tentando colocar simpatia na voz.
- Fale príncipe!
- O que mais seu informante descobriu
depois de sua captura em nosso castelo?
- Entendo! Teme que eu ataque seu povo?
Mas também peço que entenda minha situação, pois neste momento a nação Lys
acredita que nosso povo tentou invadir suas terras e roubar seu medalhão,
levando assim seu príncipe como refém! O que fariam neste momento?
- Mas quem atacou o castelo? Não foi
realmente o povo das sombras?
- Príncipe, lembra que lhe contei sobre
os invasores que tentam se infiltrar e usurpar o reino, os mesmos que iniciaram
a guerra em nosso antigo lar? – lembrou o comandante tentando esclarecer.
- Meu pai não sabe disso! E tão pouco
que foi Verge que tentou me matar!
- O medalhão deve estar com Verge, ele
deve ter fugido para a floresta! Precisamos encontra-lo e traze-lo para nossos
domínios assim pagará pelos seus crimes. – disse o rei levantando-se da pedra
em formato de trono e ajeitando sua espada na bainha.
- Eu preciso ir até meu pai rei Soren!
Ele precisa saber que estou vivo e entender o que aconteceu.
- Ele irá nos culpar novamente, se
souber que Verge é um traidor, seu pai não faz ideia que o próprio guardião
matou a rainha Natt! Mas ele irá lançar sua ira encima de nosso povo.
- Eu não permitirei! – respondeu com
voz cansada como tentando vencer uma corrida já perdida.
- Verge é um elfo das sombras príncipe,
ele acreditará que fez tudo ao meu comando. Você não terá voz neste embate.
Perdoe-me pelo que precisarei fazer, não posso deixar que sai deste castelo,
até encontrarmos o traidor e recuperarmos o medalhão!
- Não faça isso, não permita que eu
seja um prisioneiro. Afinal temos o mesmo sangue, é irmão de minha mãe!
- E digo mais uma vez, lamento! Mas
nosso povo não suportaria uma nova guerra, se a nação Lys acreditar que temos
algo com a morte de sua rainha, iremos perecer. Se Verge fugiu do castelo é
porque tinha alguma desconfiança, mas não revelou sua traição!
A conversa acabara ali, o príncipe não
tinha mais argumentos e o comandante já estava se retirando para preparar a
guarda real. O rei pediu que o levassem para seus aposentos e o deixassem lá
até segunda ordem.
Mas o que o rei Soren e seus guardas
não faziam ideia era que ali bem próximo deles estava o poder do medalhão que
tanto buscavam.
Sentado em sua nova sela em meio as
sombras da prisão o príncipe Manelys retirou do seu esconderijo o objeto e
invocou mais uma vez sua força. Desta vez conseguiu se conectar com ele, as
duas metades brilharam em sincronia e começaram a emitir encantamentos como uma
tela de cristal, era uma espécie de livro fluído que surgia a sua frente.
As inscrições se pareciam com aquelas
gravadas nas paredes da sala do trono de pedra, mas ele conseguia compreender o
que elas queriam dizer, iam passando a sua frente, até uma chamar sua atenção e
ficar estática aos seus olhos.
- Isso parece um encantamento como
aqueles que Verge pronunciava quando eu era criança! Interessante, talvez isso
possa ser muito útil!
(continua...)
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